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Mitos 

Anna Karenina Azevedo Martins

Iemanjá segurando os seios, 1974. Coleção Irapoan Cavalcanti, Rio de Janeiro, Brasil - Mar

Imagem: Iemanjá segurando os seios, 1974. Coleção Irapoan Cavalcanti, Rio de Janeiro, Brasil.

A artista Maria Auxiliadora nasceu na cidade de Campo Belo - MG, no ano de 1935, mas viveu quase toda sua vida em São Paulo. Foi empregada doméstica e sempre teve afinidade com a arte. Só pode se dedicar totalmente à pintura aos 32 anos.  A artista autodidata Maria Auxiliadora usa uma técnica para pintar muito singular, com cores vibrantes e relevos sobre as telas, fugindo dos preceitos acadêmicos de pintura.

O mito da criação das ondas

            No começo do mundo, quando os oceanos tinham acabado de ser feitos, eles não eram assim, como conhecemos hoje. O mar parecia um enorme espelho de tão calmo, refletindo dia e noite as imagens do céu. Seus habitantes viviam tranquilos em meio aquela imensidão líquida, cuidados por sua senhora Iemanjá. Mas com o passar do tempo, os homens começaram a jogar no mar tudo o que não queriam mais. Desrespeitavam Iemanjá e seu reino. As casas das mulheres e homens estavam sempre lindas e arrumadas, mas a casa de Iemanjá vivia cheia de lixo e sujeira. Os peixes foram desaparecendo, as conchas das praias não apareciam mais e as algas haviam perdido o vigor. Grandes animais como baleias, golfinhos e arraias já não eram vistos de tempos em tempos, como de costume. Seus filhos humanos sentiam faltam do que o reino de Iemanjá lhes dava, mas não percebiam o grande mal que estavam fazendo.

 

            Iemanjá e os habitantes dos mares eram diariamente molestados e sua casa profanada. Se continuasse daquele jeito, nenhum dos seus filhos marinhos sobreviveria. Irritada com tanto descaso dos humanos, Iemanjá decidiu reclamar com Olorum. Ele ouviu as reclamações e deu-lhe o dom de devolver à praia as coisas ruins que as pessoas jogassem no mar. Foi aí que surgiram as ondas, para revolver as águas do mar, varrer as praias e devolver à terra o que não é do reino de Iemanjá. Surgiram também as marés que fazem o mar subir e descer num movimento que jamais cessa, do mesmo modo que jamais cessa a vida de Iemanjá e seu eterno respirar. Desde então, Iemanjá vem protegendo seu reino enviando ondas, vagas, ressacas e até tsunamis. Melhor mesmo é cuidarmos desse reino, de onde tiramos parte importante do que nos mantém vivos.

Sobre a autora

Sou professora de parteiras e pesquisadora da célula beta pancreática e acredito que fazer ciência com lucidez e filosofia é uma forma criativa e responsável de melhorar o mundo. Sim, é preciso e possível melhorar o mundo. Planos para o futuro? Tornar meu grupo de pesquisa uma referência no estudo da célula beta, aprender a tocar violão e encher o mundo de histórias. Ah, e o inevitável: continuar lavando louça.

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